Leonor Catronga- 5º D ( 2º lugar no concurso Halloween)
O
Halloween é uma importação, mas foi criado na Europa há 2000 anos. E esta,
hein?
As casas ficam assombradas, os fantasmas ganham vida, as bruxas saem à rua e os
vampiros saltam do caixão. Tudo se junta naquela que é a noite mais assustadora
do ano. Ou isto ou comem-se guloseimas, pregam-se partidas e contam-se
histórias de terror. Mais Halloween e menos pão por Deus, num fenómeno a que
chamam de "aculturação".
No universo das histórias de terror, é na noite desta
sexta-feira que tudo ganha forma e volta à ação. Naquela que é considerada, nos
Estados Unidos, a segunda comemoração com mais adesão, a seguir ao Natal, o
Halloween conquista cada vez mais território e mais participantes. A tradição
já não é, definitivamente, o que era. Em Portugal, e principalmente nas grandes
cidades, o pão por Deus foi substituído pela típica questão americana:
"doçura ou travessura?".
Mas vamos recuar no tempo. A história desta noite especial,
muito antes de pertencer aos vampiros e às bruxas, teve origem celta, há dois
mil anos. De 30 de outubro a 2 de novembro, os povos celtas comemoravam o fim
do verão numa celebração chamada Stamhain, cujo significado é literalmente 'fim
do verão'. Reza a lenda que na noite do dia 30 de outubro os mortos voltavam a
povoar a terra e personificavam a figura do fantasma. O objetivo era que os
familiares dos mortos deixassem à porta de casa comida e bebida para a receção
dos espíritos. Numa noite em que os que se atreviam só saiam de casa se
estivessem mascarados de fantasma para conseguir passar despercebido entre
eles.
Mais tarde, a Igreja Católica substituiu o Stamhain pelo
Dia de Todos os Santos, 1 de novembro. E a noite de dia 31 tornou-se no
"All Hallows Eve", ou seja, noite de todos os santos. "É uma
tradição que viajou do norte da Europa para a América. A Europa tem a base
cultural, as tradições, os espíritos, toda a cultura celta", diz ao Expresso o
padre António Fontes.
Por ser uma comemoração pagã, a relação entre o dia das
bruxas e a Igreja Católica foi sempre adversa. Segundo António Fontes, "a
igreja não vê com bons olhos porque não entende o espírito cultural, histórico
e antropológico desta tradição. Precisa de conhecer as tradições para poder
entendê-las melhor".
Acabou a lição de História, vamos regressar aos dias de
hoje. Em Portugal o dia das bruxas vai tendo cada vez mais participantes, mas
segundo afirma Nuno Santos, proprietário da Casa do Carnaval, em Lisboa,
"o Halloween não é uma novidade tão recente como se julga, mas tem vindo a
ser implementado cada vez mais pelo comércio noturno."
Jean-Martin Rabot, docente de Sociologia da Universidade do
Minho, considera que a apropriação do Halloween é um resultado da globalização
que o mundo tem vindo a registar. "Há uma adaptação constante e uma
apropriação de elementos culturais alheios à nossa própria tradição. Num mundo
globalizado as fronteiras diluem-se, as identidades tornam-se móveis e os povos
adaptam-se facilmente aos costumes dos outros povos", afirma.
O que é bom é português?
Mas se como se diz o que é bom é português, muitas são as terras
que se esforçam para manter a cultura nacional e adaptá-la aos tempos modernos.
Em Vilar de Perdizes, distrito de Montalegre, comemora-se a noite dos fachos,
"em que os rapazes roubam palha às pessoas e vão para o alto dos montes
gritar para espantar os espíritos, as bruxas e os demónios", afirma o
padre António Fontes.
O sociólogo Jean Rabot defende que "cada país adapta a festa
à sua maneira" e que, a incorporação de fenómenos internacionais em nada
excluem o que é nacional, "a globalização contribuiu para o renascer das
tradições locais, até porque se tornam conhecidas pelo resto do mundo".